Como te amo?Não sei de quantos modos vários
Eu te adoro, mulheres de olhos azuis e castos;
Amo-te co’o fervor dos meus sentidos gastos;
Amo-te co’o fervor dos meus preitos diários.
É puro o meu amor, como os puros sacrários;
É nobre o meu amor, como os mais nobres fastos;
É grande como os mar’s altíssimos e vastos;
É suave como o odor de lírios solitários.
Amor que rompe enfim os laços crus do ser;
Um tão singelo amor, que aumenta na ventura;
Um amor tão leal que aumenta no sofrer;
Amor de tal feição que se na vida escura
É tão grande e nas mais vis ânsias do viver;
Muito maior será na paz da sepultura!
Fernando Pessoa [junho, 1902].